Zeca Afonso

Cantor e compositor José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, conhecido por Zeca Afonso, nasceu a 2 de agosto de 1929, em Aveiro. Em 1930 os pais vão para Angola, e por questões de saúde, Zeca Afonso fica com os tios, mas em 1933, segue para Angola, onde permanece 3 anos e onde inicia a instrução primária. Em 1936 regressa a Aveiro, mas um ano depois parte para Moçambique ao encontro dos pais e dos irmãos. Volta novamente para Portugal, em 1938, para casa de um tio, em Belmonte, onde conclui a 4ª classe. Em 1940 vai para Coimbra para prosseguir os estudos. Em 1945 começa a cantar serenatas como "bicho", designação da praxe de Coimbra para os estudantes liceais, e Zeca Afonso frequentava o 5º ano do liceu. Casa-se em segredo, por oposição dos pais. Viaja com o Orfeão Académico de Coimbra e com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra e ao mesmo tempo integra a equipa de futebol da Associação Académica de Coimbra. Em 1949 inscreve-se no primeiro ano do curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em janeiro de 1953 nasce o primeiro filho. Para sustentar a família dá explicações, faz revisão de textos no "Diário de Coimbra", e grava o seu primeiro disco "Fados de Coimbra". Cumpre serviço militar obrigatório, em Mafra, e é colocado num quartel em Coimbra. Já com dois filhos, começa a dar aulas em Mangualde, e ao longo da sua vida lecionou em Alcobaça, Aljustrel, Lagos e Faro. Viaja constantemente para Coimbra, por ser muito solicitado para cantar em serenatas, espetáculos e digressões. Em dezembro de 1957, atua em Paris, no Teatro Champs-Élysées. Divorcia-se, e por questões financeiras envia os seus filhos para junto dos seus pais, em Moçambique. Em 1959 começa a frequentar coletividades e a cantar em meios populares. Segue atentamente a crise estudantil de 1962, e conhece a sua segunda mulher. Em 1963 termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com a tese sobre Jean-Paul Sartre. Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia. Em 1964, atua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para a canção "Grândola, Vila Morena". De 1964 a 1967, vive em Lourenço Marques com a segunda mulher, reencontra os seus dois filhos, e nasce outra filha. Nessa altura começa a sua carreira política, em defesa da independência das colónias. Ainda em 1967 regressa a Lisboa, é colocado como professor em Setúbal, mas por motivos de doença, é hospitalizado, sendo expulso do ensino oficial. A partir dessa altura torna-se um símbolo da resistência democrática, mantem contactos com a Liga de Unidade e Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português. Em 1968 dedica-se a dar explicações e a cantar. Em 1969, Zeca Afonso participa no "I Encontro da Chanson Portugaise de Combat" em Paris. Recebe o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco em 1969, 1970 e 1971. Nasce o seu último filho, e Zeca Afonso continua a cantar, mas muitas sessões são proibidas pela PIDE/DGS. Em abril, é preso e fica 20 dias na prisão de Caxias, e é na prisão que escreve o poema "Era um Redondo Vocábulo". Em 29 de março de 1974, Zeca Afonso realiza um concerto no Coliseu dos Recreios, que termina com a canção "Grândola, Vila Morena". Apesar da censura proibir algumas canções para este concerto, a "Grândola, Vila Morena" foi autorizada, e escolhida pelos militares que se encontravam a assistir, como a senha da Revolução de 25 de Abril de 1974. De 1974 a 1975 envolve-se nos movimentos populares, e estabelece uma colaboração com o movimento revolucionário LUAR. Em 1981, regressa a Coimbra com o seu álbum "Fados de Coimbra e Outras Canções". A 29 de janeiro de 1983 realiza-se o espetáculo no Coliseu dos Recreios, onde Zeca Afonso já manifesta sintomas da doença. A cidade de Coimbra atribui-lhe a Medalha de Ouro da Cidade. Zeca Afonso recusou receber a "Ordem da Liberdade", atribuída pelo Presidente da República Ramalho Eanes, e em 1994 o Presidente da República Mário Soares tenta de novo, condecorá-lo a título póstumo, mas a viúva recusa-se a receber. Ao longo dos anos editou vários discos "Contos Velhos, Rumos Novos", "Traz outro amigo", "Cantigas de Maio", "Eu vou ser como a toupeira", "Venham mais cinco", entre outros, e em 1985 edita o último álbum "Galinhas do Mato". Zeca Afonso morreu no dia 23 de fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Por sua vontade expressa em vida, a sua urna foi envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo e transportada por vários músicos. O cortejo fúnebre demorou duas horas até ao cemitério. Em 18 de novembro de 1987 é criada a Associação José Afonso.