“Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma”. Foi com este texto, lido aos microfones do Rádio Clube Português pelo locutor de serviço Joaquim Furtado, que às 4 da manhã do dia 25 de abril de 1974 o povo português tomava conhecimento de que uma revolução estava em marcha, e que a ditadura do Estado Novo terminava. Cerca de uma hora antes, já as instalações da RTP no Lumiar haviam sido também ocupadas pelo MFA. A RTP seria mesmo uma das protagonistas desse dia histórico, primeiro através de serviços noticiosos que iam relatando a sucessão de acontecimentos, depois com reportagens de rua acompanhando os militares e o povo que se concentrava em frente ao Quartel do Carmo, e finalmente, já por volta da uma da manhã do dia 26, sendo o palco da comunicação ao país da Junta de Salvação Nacional. Nos dias seguintes, durante toda a semana que medeou até às grandes manifestações do 1º de maio, a RTP marcaria igualmente presença diária na casa dos portugueses relatando de perto todos os eventos históricos que se sucederam: a prisão dos agentes da PIDE/DGS, a libertação dos presos de Caxias, as manifestações populares, o regresso dos exilados Mário Soares e Álvaro Cunhal. Era um Portugal novo que nascia e, num certo sentido, também uma televisão diferente que começava.
Fotografia de Eduardo Gageiro.