Confronto: 4 Candidatos para Belém – Parte III
Terceira parte do debate moderado pelo jornalista Joaquim Letria com os quatro candidatos às eleições presidenciais de 1976: Major Otelo Saraiva de Carvalho, apoiado por UDP, MES, FSP e PRP, Octávio Pato, candidato e dirigente do PCP, General António Ramalho Eanes, apoiado por PS, PPD, CDS e PCTP, e Almirante José Pinheiro de Azevedo, candidato independente.
Resumo Analítico
Major Otelo Saraiva de Carvalho reflete sobre o "espírito de independência nacional" que tem vindo a referir ao longo da sua campanha eleitoral; Almirante José Pinheiro de Azevedo comenta a polémica envolta nas suas declarações relativas à participação de comunistas no governo e a colaboração com os Estados Unidos da América e a utopia associada a essa ideia, desmente a afirmação e o sentido que lhe foi atribuído, afirma que "não há nenhum país independente" e a tentativa de criar um governo definitivo e operacional. 01h25m03: Ramalho Eanes concorda com o que Otelo referiu sobre a independência nacional, porém esta deve ser conjugada em termos de realismo e não de utopia, o programa do governo e a sua provação pela Assembleia da República e refere a obrigação dos partidos na participação na execução do programa e consciencializar as suas massas partidárias para tal propósito, afirma que os restantes candidatos estão enquanto civis e não militares (em resposta ao que Octávio Pato referiu anteriormente) e comenta as ideias apresentadas pelo Major Otelo relativamente à independência nacional. 01h30m53: Ramalho Eanes pronuncia-se a posição das Forças Armadas perante um candidato e/ou presidente eleito civil, referindo que este seria aceite por parte da instituição nacional desde que a sua prática respeitasse as regras estabelecidas pela constituição; Major Otelo Saraiva de Carvalho refere que mesmo que "houvesse as fosquinhas todas que houvesse, viessem Otelos e Azevedos, o presidente da República seria Ramalho Eanes" alusiva a declarações de político (não identificado) publicadas em jornal. 01h34m55: Ramalho Eanes pronuncia-se sobre as declarações mencionadas anteriormente; Octávio Pato comenta a questão da independência nacional e aposta nas relações de cooperação entre os países, sem subordinações e tutelas entre países, destaca a ação do VI Governo Provisória e a elaboração da plataforma destacando o exemplo concreto da Reforma Agrária e manifesta satisfação pelo referido apoio das Forças Armadas independentemente do candidato que for eleito. 01h38m13: Major Otelo Saraiva de Carvalho retorna ao conceito de independência nacional e afirma que "dependência significa sujeição" mas as relações de cooperação e intercâmbio entre países é desejável; Almirante José Pinheiro de Azevedo e Major Otelo refletem sobre a questão da independência nacional entre países e a evolução deste conceito no mundo; Major Otelo pronuncia-se sobre o apoio das Forças Armadas e questiona Ramalho Eanes sobre ter afirmado que caso Otelo eleito presidente, o general abandonaria Portugal. 01h42m40: General António Ramalho Eanes responde a Otelo afirmando que "não está a ver qualquer nexo entre a posição das Forças Armadas e a minha posição (...) porque quando falei foi em nome pessoal. Ao Major Otelo ligam-me laços de amizade e que isto refere-se a ele apenas porque ele é um símbolo (...) se por ventura se instituísse em Portugal um projeto que o Major Otelo é o símbolo eu teria uma certa dificuldade em viver num país como cidadão (...) É natural que me sentisse sem aquilo que considero a liberdade mínima para estar e se assim fosse (...) eu preferia o país estrangeiro. Não pretendi de forma alguma atingir o Major Otelo, o que pretendi foi expressar esta ideia" e reflete sobre a possibilidade de Otelo ser eleito presidente. 01h44m40: Major Otelo Saraiva de Carvalho reage às declarações de Ramalho Eanes e ao facto deste ter afirmado que abandonaria o país caso Otelo fosse eleito e afirma que o seu projeto não aponta para um regime ditatorial e que "não tem qualquer feitio para ditador"; General António Ramalho Eanes afirma que a sua resposta foi dirigida a uma hipótese que considera inadmissível e que o seu comportamento demonstrou respeito pelo povo português, destaca a diferença entre abandonar e desertar, afirma que Otelo não possui tendências ditatoriais e frisa a sua amizade para com o Major e refere que o problema reside em algumas das forças que apoiam a candidatura do adversário. 01h50m20: Major Otelo Saraiva de Carvalho reage às afirmações de Ramalho Eanes relativamente ao facto de ser influenciável e que o projeto apresentado partiu dele e não das tais forças, ao que Ramalho Eanes conclui e afirma que não gostaria de continuar a debater tal assunto. 01h51m50: Octávio Pato apresenta a sua posição sobre o que foi dito anteriormente destacando a associação de ditadura ao projeto defendido pelo Major Otelo e a impossibilidade de implementação de um regime ditatorial devido ao movimento das massas populares e do Movimento das Forças Armadas (MFA) pós o 25 de abril, apela a que os portugueses se sintam bem em Portugal. 01h53m49: Almirante José Pinheiro de Azevedo afirma que deseja uma "democracia pluralista" e que a unanimidade é o "pior inimigo da democracia" pois transforma-a num "pântano perigosíssimo"; Major Otelo Saraiva de Carvalho apela a que seja possível construir uma "sociedade socialista mas com a convicção de que serão os trabalhadores a quem cabe a responsabilidade de construir o socialismo em Portugal"; General António Ramalho Eanes afirma que "este país está farto de palavras e que hoje de novo lhe oferecemos palavras (...) gostaria que fossem mais além e que tentassem analisar-nos mas pelos atos que temos cometido".