Alexandre Quintanilha – Parte I
Primeira parte do programa apresentado por Maria João Seixas, tendo como convidado Alexandre Quintanilha, investigador em biofísica, no qual se aborda a temática da manipulação genética e suas implicações ético-morais no contexto da sociedade humana, bem como até que ponto o investigador não estará a desempenhar o papel de criador.
Resumo Analítico
Maria João Seixas inicia o programa citando excerto do Livro do Genesis, Antigo Testamento que fala sobre a tentação sofrida por Adão e Eva para provarem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim do paraíso. Maria João Seixas introduz e apresenta Alexandre Quintanilha, investigador em biofísica questionando-o se a sua opção profissional foi influenciada pela profissão e personalidade dos pais. Quintanilha concorda e refere as razões que o levaram a optar pela física como área de estudo, e refere a razão que o levou a optar pela Califórnia como local para desenvolver as suas pesquisas, a liberdade de conhecimento para além do ser humano presente na cidade de São Francisco, bem como a vida cultural e noturna oferecida pela cidade. Excerto do filme "Metropolis", de Fritz Lang em que cientista transforma robot em ser humano, Quintanilha comenta o excerto do filme considerando que o público em geral tem uma imagem errada do cientista relativamente ao seu poder para manipular a natureza humana, salvaguardando o direito dos cientistas para entrarem em áreas do conhecimento ainda não totalmente exploradas, como a genética. Maria João Seixas refere o perigo do emprego da manipulação genética com propósitos pouco éticos e Quintanilha concorda, mas remete a responsabilidade do emprego da informação descoberta para a sociedade, Quintanilha fala sobre o facto de que há já vários séculos se verificar o cruzamento de espécies, como por exemplo a mula, ou a transposição do milho da América do Sul para a Europa, considerando-as ao seu nível como alterações genéticas. Quintanilha refere o facto de haver a tendência para se considerar como monstruosa a manipulação genética no ser humano, no entanto compara-a à transplantação de órgãos, a qual é aceite, não sendo considerada como imoral ou não ética, Seixas fala sobre a possibilidade iminente trazida pela manipulação genética de se poder alterar a essência do ser humano, bem como a tentação que isto constitui para qualquer geneticista, assumir o papel de criado. Excerto do filme "Frankenstein", de James Whale em que o criador congratula-se pelo sucesso da sua criação, criatura rebela-se e ataca o seu criador, multidão enfurecida ameaça cientista, multidão apanha o corpo do cientista, morto pela sua criação. Maria João Seixas refere o perigo de a criação poder escapar ao controlo do seu criador ou, por analogia, o controlo do cientista sobre os resultados da manipulação genética em seres humanos; Quintanilha compara a situação com o emprego da energia atómica na construção de armamentos de destruição maciça, algo que foi da responsabilidade dos governos e não dos cientistas, Quintanilha defende também que o conhecimento do mapa genético humano vai permitir chegar-se mais depressa à cura de doenças genéticas, algumas delas portuguesas, como a doença dos pezinhos, ou identificação de mal-formações em fetos humanos ainda no útero, determinando assim a hipótese de escolha em se ter o filho ou não. Maria João Seixas questiona Quintanilha sobre o confronto entre o facto de o investigador sentir angústia e/ou hesitação em prosseguir com o seu trabalho por este provocar alterações radicais na constituição da natureza humana e a sua curiosidade e intuito de ir mais longe em termos de conhecimento, Quintanilha afirma que o desejo de prosseguir com a investigação é sempre superior, acrescentando que o cientista raramente considera as consequências que a sua descoberta possa vir a ter, refere também o celeuma gerado em torno da notícia recente da clonagem de embrião humano em Inglaterra.