Manoel de Oliveira
Aquele a quem chamavam de “Mestre” sempre se considerou, nas suas próprias palavras, mais como um “aluno de Cinema” do que outra coisa. Independentemente da perspectiva, aquilo que é inegável é que a vida, e sobretudo a carreira, de Manoel de Oliveira fazem do cineasta português um caso único e sem paralelo na história da Sétima Arte, não apenas em Portugal mas também no mundo. Natural da cidade do Porto, onde nasceu a 11 de dezembro de 1908, as raízes, influências e memórias dourienses permearam toda a sua obra, desde logo a sua estreia como realizador com o documentário “Douro, Faina Fluvial” (1931), ainda no tempo do cinema mudo, mas também alguns dos seus filmes mais famosos como “Aniki-Bobó” (1942), “Vale Abraão” (1993) ou o autobiográfico “Porto da Minha Infância” (2001). Mais do que a sua extraordinária longevidade, aquilo que é verdadeiramente notável e singular no seu percurso como cineasta é o facto de ter sido apenas aos 70 anos de idade que a sua carreira tenha encontrado a projecção merecida, ganhando a partir daí um ritmo impressionante de praticamente um novo filme produzido todos os anos, sempre com uma vitalidade e clarividência invejáveis, até ao seu falecimento em 2 de abril de 2015. Sobre a inevitabilidade da morte, e numa entrevista que um dia concedeu à RTP, Manoel de Oliveira referiu com a argúcia e o humor que o caracterizavam: “A morte igualiza toda a gente. Rico e pobre, saudável ou doente, ficam todos igualizados. Todos reclamam isso, e isso é dado no fim. Teria sido melhor no princípio, mas não, essas coisas vêm no fim”. Até sempre, Manoel.