Os Bibliófilos – Parte II
Segunda parte da entrevista de Maria João Seixas a Mário Soares, amante da leitura e colecionador de livros além de Presidente da República e José Maria Almarjão, livreiro antiquário sobre o gosto pelos livros, a relação com a leitura como processo solitário e intimista num mundo invadido pelas novas tecnologias e sobretudo as histórias de Soares acerca dos livros que possui e das relações de amizade com escritores portugueses que marcaram a literatura portuguesa.
Resumo Analítico
Mário Soares mostra a 1ª edição da "Mensagem" de Fernando Pessoa com dedicatória ao escritor Eliezer Kamenezky, caracteriza-o e aborda a amizade entre os dois. José Almarjão avalia o livro em dinheiro. Mário Soares relata um episódio passado na livraria do livreiro. José Almarjão indica a dificuldade em conseguir livros, explicando que os leilões são as melhores fontes de rendimento para quem tem livros para vender, explica como os conhecimentos e contactos são preciosos no negócio e comenta as poucas vendas internacionais. Mário Soares afirma que as universidades americanas compram muitas obras inclusivamente portuguesas sem que os nacionais tenham acesso, declara-se fã de José Rodrigues Miguéis, e elogia o romance "O Milagre segundo Salomé" da autoria deste e conta como a sua biblioteca foi doada depois de morto. José Almarjão comenta as vendas de bibliotecas abastadas após o 25 de Abril e as perdas para o estrangeiro devido à rentabilidade conseguida. Mário Soares explica que compra no estrangeiro obras mais económicas do que em Portugal por não serem tão apreciadas, o que justifica que o facto de se vender para fora não significa a perda definitiva e afirma não se interessar por livros quando provenientes de culturas às quais não se sente ligado como a asiática e relata uma história passada numa livraria grega com um exemplar de um livro seu traduzido para grego sem direitos de autor, afirma ter vários livros na mesa de cabeceira e levá-los para todo o lado. José Almarjão afirma que Soares lhe prometeu mostrar-lhe a sua coleção de livros. Mário Soares fala desta e da forma como acompanha as primeiras edições, e mostra dificuldade em escolher o seu livro preferido apesar da lealdade ao escritor Eça de Queirós, afirma que nem sempre acaba de ler os livros e elogia o tradutor Palma Ferreira. José Almarjão declara o prazer pela leitura, o fascínio pela história e a abundância de livros em casa. Mário Soares demonstra-se grande apreciador do escritor Camilo Castelo Branco e associa-o à escrita de Rachel de Queiroz, escritora brasileira, diz que gostaria de ter sido romancista, julgando tarde para o ser, assume o interesse em escrever sobre o país no passado e futuro e dá exemplos de autores que começaram tarde a escrever, e fala da amizade com José Saramago, após o reconhecimento do seu talento, apesar de ser oponente político, fala sobre a inexistência de um Prémio Nobel da Literatura atribuído a um escritor de língua portuguesa, justificando com lobbies da Suécia e da Noruega e com a carência de traduções nesses países, de onde provêm os júris. Mário Soares lê um excerto do livro "Notas Contemporâneas" de Eça de Queirós sobre Antero de Quental depois de considerar um episódio final da "Relíquia" chocante. Maria João Seixas elogia a leitura de Soares, agradece a presença dos convidados. E apresenta a canção Bella Ciao a ser exibida numa sequência de fotografias a p/b alusivas à resistência italiana à ocupação nazista ao som desta canção tradicional interpretada por Giovania Marini.