Frente a Frente… Mário Soares e Álvaro Cunhal – I Parte
Primeira parte do debate em estúdio entre Mário Soares, Secretário Geral do Partido Socialista, e Álvaro Cunhal, Secretário Geral do Partido Comunista Português. Moderado pelos jornalistas José Carlos Megre e Joaquim Letria, este debate demonstrou à evidência duas visões distintas e antagónicas para o futuro de Portugal. Segundo as regras estabelecidas previamente, e nesta primeira parte, ambos os líderes respondem às questões que os moderadores lhes colocam individualmente, esclarecendo qual a posição de cada um dos partidos sobre as matérias em análise.
Resumo Analítico
Mário Soares começa por referir as dificuldades práticas da governação provocadas pela reserva do PC na participação do VI Governo Provisório, criticando a manipulação e agitação social provocada pelo PCP e a extrema-esquerda; Álvaro Cunhal argumenta com a necessidade de alargamento social da revolução, dos revezes sofridos pelas forcas progressistas depois da remodelação do V Governo Provisório e do pronunciamento de Tancos, a não identificação do PC num governo em que haja forcas como PPD; Soares concorda que a revolução é feita contra os latifúndios, o fascismo, a colonização e os grandes exploradores capitalistas, mas com um critério democrático, não se devendo excluir a participação de um partido com 26% do eleitorado como o PPD; Soares e Cunhal acusam-se mutuamente descrevendo os acontecimentos de conflitos sociais entre as "forças progressistas revolucionárias" e as "Forças Reaccionárias"; os dois políticos referem as alianças do VI Governo e as possibilidades de convergência entre PS e PCP; Soares refere os antagonismos criados pela revolução, a instabilidade económica, as clivagens no seio das famílias, no trabalho, não sendo estes os caminhos da revolução que devem ser identificados com o respeito pelas regras da alternância democrática, governando quem tem a maioria e não quem se diz mais revolucionário; os dois dirigentes referem a posição sobre os acontecimentos em Angola por solicitação do moderador José Megre: Cunhal relembra a solidariedade do PCP com vários movimentos de libertação; considera o MPLA como o legítimo representante de Angola e responsabiliza a FNLA e a UNITA pela situação de instabilidade militar que prevê agravar-se com a aproximação da data da independência; Soares elabora um historial sobre os vários movimentos de independência com representatividade legítima, sendo o caso angolano referido como o mais complexo pelos interesses internacionais em jogo e a existência de três movimentos; Soares refere o critério pragmático seguido em detrimento do ideológico e as acções da diplomacia portuguesa junto da ONU, OUA e do Vaticano; Soares elogia os acordos de Alvor que abrangem a legitimidade dos três movimentos, cabendo ao povo angolano a decisão de escolher a sua governação; Soares refere o papel de Vítor Crespo, como Ministro dos Negócios Estrangeiros; Soares e Cunhal discutem sobre as consequências de um reconhecimento unilateral de um dos movimentos de independência e sobre as pressões internacionais exercidas sobre Angola.