Toda a memória do mundo – Parte II
Segunda parte do debate moderado por Maria João Seixas com António Hespanha, historiador, Luís Krus, historiador medievalista, e Rui Ramos, historiador contemporâneo, sobre a construção da memória de todo o mundo, a sua formação para a reconstrução de uma realidade passada e as culturas que esquecem versus as que contemplam o passado.
Resumo Analítico
António Hespanha afirma que a memória é uma disposição intelectual seja das pessoas seja das culturas, afirma que após o Iluminismo se incutiu uma cultura do esquecimento ao contrário do que até aí se vivia, reforça a ideia de renovação do património e memória com a cultura pós-moderna atual. Luís Krus salienta que a cultura atual de inovação não inclui a tradicional portuguesa de cariz rural sendo presente um esquecimento do passado. António Hespanha atenta a preocupações populares em proteger o passado. Rui Ramos contrapõe dando exemplos passados na história de regressos a tradições que se julgava estar a perder pelo avanço para outra realidade, defendendo que é típico esse comportamento, dando o exemplo dos romances de Aquilino Ribeiro. António Hespanha contradiz dizendo que a cultura pós-moderna convive com o antigo ao invés de recriar aspetos do passado e dá o exemplo da casa portuguesa. Rui Ramos defende o passadismo classificado de reacionário face ao avançado defendido por António Hespanha com exemplos, intercalado com este que salienta a falta de humor face ao passado associada às recriações do passadismo reacionário. Luís Krus expõe o modo de vida das sociedades urbanas acuais que encaram o passado como exterior ao seu quotidiano sendo a reconstrução do mesmo uma exteriorização da função do passado na sociedade atual. António Hespanha explica que o gosto pelas coisas do passado está presente na atualidade, em coleções e nota-se uma mudança nas atitudes de restabelecimento do gosto pelo passado. Rui Ramos refere-se ao culto de desenvolvimento das elites que associavam o passado à ditadura salazarista e à sensibilidade dos populares para proteger as tradições nas décadas de 50 e 60 e reforça que o regresso ao passado é incutido pelos meios de comunicação. António Hespanha dá o exemplo da rápida reconstrução de Frankfurt nas décadas de 50 e 60 para mostrar que a era do esquecimento não era só portuguesa. Luís Kruz defende que as elites nessas décadas tentavam esquecer o passado para se distinguirem da classe média que o protegia e refere que é esse facto que caracteriza a sociedade média urbana atual. Rui Ramos afirma que a carga emotiva associada a uma cultura suporta o gosto pelo passado e uma memória base para se acrescentar conhecimento. Maria João Seixas agradece aos convidados e apresenta o filme que se visiona em seguida. Sequência de fotografias a p/b da coleção "Souvenirs" alusivas ao quotidiano do exército ao som da música "Kanonen Song" da autoria de Kurt Weill.