Toda a memória do mundo – Parte I
Primeira parte do debate moderado por Maria João Seixas com António Hespanha, historiador, Luís Krus, historiador medievalista, e Rui Ramos, historiador contemporâneo, sobre a construção da memória de todo o mundo, a sua formação para a reconstrução de uma realidade passada e as culturas que esquecem versus as que contemplam o passado.
Resumo Analítico
Excerto do filme "Toute la Mémoire du Munde" de Alain Resnais, filmado no interior da Biblioteca de Paris em 1956. Maria João Seixas apresenta o tema do programa. António Hespanha explica que a memória não é só constituída por textos escritos, que apesar de serem as únicas fontes de estudo limitam a capacidade de recordar as culturas orais, e foca o alargamento da conservação da memória com a evolução tecnológica. Luís Krus salienta a importância das tradições orais e da imagem na cultura medieval, foca a sua vivência no seio de uma cultura escrita e explica como os medievalistas estudam através de fontes escritas a cultura de costumes da Idade Média, frisando a necessidade de analisar as falhas, os enfoques, para reconstituir a sociedade, analisa a organização da biblioteca como uma instituição de memória sistematizada segundo uma ordem de importância das obras, reflexo do seu posicionamento cultural. Rui Ramos defende que a memória que o filme apresenta associada a uma biblioteca nacional é real dada a linha condutora existente já traçada por alguém quando se inicia um estudo, mesmo os protagonistas da história passada liam o passado como ponto de partida, explica que mesmo com a evolução dos meios de comunicação, a base é a fonte escrita. António Hespanha renuncia à ideia de uma organização prévia nos seus estudos, interessando-se pela reconstrução da realidade escrita mesmo que implique partir para a ficção. Rui Ramos intervém afirmando que a característica predominante aquando da redação de textos para efeitos de reconstrução da realidade é a plausibilidade, contrapondo as afirmações anteriores, dá o exemplo dos historiadores do século XIX que escreviam para agradar a um público abrangente. António Hespanha critica os escritores românticos na reconstrução do personagem histórico pela perda de plausibilidade do objeto em prol da do historiador. Luís Krus acrescenta que a recriação da memória de uma época por duas sociedades diferentes é distinta, pois cada uma é condicionada pelo tempo em que se insere.