Os Bibliófilos – Parte I
Primeira parte da entrevista de Maria João Seixas a Mário Soares, amante da leitura e colecionador de livros além de Presidente da República e José Maria Almarjão, livreiro antiquário sobre o gosto pelos livros, a relação com a leitura como processo solitário e intimista num mundo invadido pelas novas tecnologias e sobretudo as histórias de Soares acerca dos livros que possui e das relações de amizade com escritores portugueses que marcaram a literatura portuguesa.
Resumo Analítico
Excerto do filme "Fahrenheit 451" de François Truffaut lançado em 1966. Maria João Seixas agradece a presença dos convidados e introduz o tema do programa. Mário Soares opina sobre o filme de Truffaut apontando para um futuro sem leitura onde os amantes da leitura deveriam refugiar-se e decorar os livros como forma de os conservar, acontecimento real com os soviéticos apesar de considerado impossível no passado, comenta a tecnologia associada aos meios audiovisual e multimédia que suscitam interesse pela facilidade de compreensão da mensagem daí a consequente necessidade de incentivar a leitura e criar relações com os livros, relata um episódio acerca da capacidade dum cd rom que continha toda a coletânea da Enciclopédia Larousse, o seu percurso como leitor de literatura portuguesa, na prisão e durante a frequência do curso de Letras que o obriga a ser cliente da livraria Sá da Costa, depois da Bertrand e consequentemente, o gosto pelo círculo de tertúlias entre literatos neo-realistas. José Maria Almarjão apresenta-se como pioneiro no negócio do livro apesar de pertencente a uma família com tradição de boas bibliotecas e comenta como a sua vertente comunicativa está relacionada com o espírito de tertúlia que ainda hoje se verifica na sua livraria, fornece o retrato do bibliófilo português que divide em colecionador e leitor nem sempre coincidentes. Mário Soares concorda com esta divisão e refere a influência de Raul Rego, jornalista e político possuidor de uma biblioteca vasta com incidência sobre os Jesuítas e a Inquisição, revela o interesse pela história pós século XIX e sobretudo pelas primeiras edições dos livros, folheando e exibindo alguns exemplares da sua coleção e acrescenta que é colecionador de autógrafos, explica o valor sentimental associado aos livros autografados e com dedicatória, relata episódios passados com o escritor Miguel Torga, por não gostar de dar autógrafos, e mostra um livro dado a Alberto Serpa com autógrafo de Torga. José Almarjão afirma que Vitorino Nemésio lhe oferecia livros com dedicatória. Mário Soares afirma nunca ter tido um ex-líbris mas mostra o livro "A Varanda de Pilates" com dedicatória, e afirma que os livros devem ser partilhados e preservados, refere a responsabilidade do autor João Gaspar Simões pelo conhecimento público do escritor Fernando Pessoa e lê dedicatória do autor para si próprio.