O Começo de uma Experiência
Documentário sobre a firma "Rodrigues & Rodrigues", empresa têxtil criada por Augusto Rodrigues, que na sequência da Revolução de 25 de Abril de 1974 passou a propriedade aos trabalhadores com um projeto de autogestão de tendência socialista, e que provocou diversas alterações nas condições de trabalho, nomeadamente no quadro salarial e na implantação de um sistema rotativo de tarefas com formação e atualização de conhecimentos contínua dos seus trabalhadores.
Resumo Analítico
Identificação "RODRIGUES & RODRIGUES" cravada em porta; plano, a partir de porta de vidro, de funcionários da firma a trabalhar; exterior da firma; faixas: "Esta empresa é dos trabalhadores com a revolução socialista a nossa revolução" e "Os nossos princípios são: unidade, trabalho, democracia, socialismo"; montra da loja; interiores da loja com roupa em cabides e prateleiras enquanto trabalhadores executam diversas tarefas na loja e empresa com voz off de jornalista sobre a história da referida empresa antes e depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. Jornalista entrevista funcionárias e funcionários, sobre as alterações que o 25 de Abril e as transformações na empresa provocaram nas suas vidas "Houve uma grande transformação aqui, trabalhamos todos com mais vontade"; "para mim mudou mais para eu ganhar mais alguma coisa e temos outras regalias que não tínhamos até aqui"; "está um bocadinho melhor"; "agora com esta transformação esperamos daqui por adiante que vá melhorando as coisas (...) mais justiça para todos"; "não sei explicar, mas estou satisfeita"; "bom mudou muita coisa, liberdade". Jornalista entrevista trabalhadores sobre terem classificado a empresa enquanto "unidade económica socialista", Alfredo Gonçalves afirma: "porque a revolução do 25 de abril, 28 de setembro e 11 de março definiram a sociedade portuguesa como tal é porque foram reunidas as condições ideais para definir e transformar a empresa de uma unidade capitalista numa unidade socialista (...) chegámos à conhecida fórmula que a exploração do homem pelo homem terminou", o problema de estarem inseridos numa economia de mercado e sociedade capitalista "uma economia socialista só o será quando houver uma planificação da economia a nível global (...) quando não existe pois então estamos em concorrência e estamos numa economia capitalista. O que se passa é que internamente, a empresa tem uma orientação socialista e isso pode nos levantar problemas na nossa atuação face ao mercado que ainda é capitalista. O que se pode passar é um saneamento dos processos de atuar nesse mercado" alternado com funcionárias e funcionários executam diversas tarefas. Funcionários e clientes no interior de loja alternado com jornalista entrevista funcionário de loja sobre a possível eliminação de alguns artigos de pronto a vestir vinda da necessidade de alteração de padrões de consumo "há artigos que tem de ser absolutamente eliminados, pois só assim se compreende que a produção nacional possa ser mais aceite e mais consumida". Declarações de trabalhador sobre "só a partir da renovação das mentalidades e a criação de novas conceções poderão estar na base da construção do socialismo neste país"; funcionária a passar a ferro; funcionárias e funcionários executam tarefas de costura com voz off de jornalista a questionar sobre a forma de assegurar o poder efetivo dos trabalhadores; declarações de Gaspar, trabalhador, sobre a questão das hierarquias na empresa, "todos os trabalhadores que fazer parte dos diversos órgãos que gerem a empresa, foram eleitos pelas bases, com voto secreto de acordo com um projeto discutido e aprovado pelas bases e, portanto, todos os órgãos foram eleitos. Pretendeu-se implantar o princípio da democracia que não existia e dar participação total que só assim se poderá compreender numa sociedade socialista". Funcionários e funcionárias trabalham em escritório alternado com jornalista entrevista funcionário de escritório sobre os salários praticados pela empresa "houve a preocupação de aumentarmos os que recebiam menos (...) aqueles que ganhavam mais nem receberam esse mesmo aumento" e como foi discutido e definido o estabelecimento do quadro salarial. Jornalista entrevista funcionárias sobre se existe igualdade de salários entre homens e mulheres que fazem o mesmo trabalho "há aqui umas pequenas diferenças entre costureiras, temos especializadas e outras não especializadas (...) Há homens que ganham mais que as mulheres, não fazem o mesmo trabalho, cada qual tem a sua profissão"; "nós estamos empenhados a fazer tudo a contente de todos, e que seja com justiça (...) para que a coisa seja feita mesmo com aquele nome que nós damos, o socialismo". Funcionários almoçam no refeitório. Declarações de trabalhadores sobre a raridade de problemas de disciplina por parte dos funcionários da empresa "as pessoas a começaram a inserir-se no novo espírito democrático da firma, começaram também a apreender que têm que se mentalizar que a indisciplina é contrária à democracia", "entendo a disciplina como uma resultante duma consciência pessoal (...) a disciplina aparece naturalmente como forma de consciência" e "as bases preconizaram a criação de uma comissão disciplinar que tem estado a atuar em sentido absolutamente pedagógico" alternado com parte da faixa "trabalhadores com a revolução socialista a nossa revolução" e funcionários executam diversas tarefas na empresa e em loja; declarações de funcionário sobre a comissão de disciplina e respetiva função. Funcionários executam diversas funções com voz off de jornalista a questionar sobre se existe a possibilidade de implementação de um sistema de serviço rotativo de tarefas para os funcionários; declarações de trabalhador sobre o referido sistema de serviço rotativo "é nossa preocupação constante a formação e aperfeiçoamento profissional das pessoas. Se uma pessoa é costureira, ela pode um dia mais tarde pode ser modelista (...) ser-lhe-á dada essa possibilidade de ascender de subir dentro da sua profissão"; jornalista entrevista costureira sobre se gostaria de experimentar outro trabalho. Artigos e produtos arrumados em prateleiras, em armazém alternado com funcionário executa tarefa com voz off da jornalista sobre a forma de gestão privada observada numa empresa de orientação capitalista e o que os trabalhadores da empresa pensam sobre esta questão; declarações de Gaspar sobre a gestão da empresa cuja intenção é "a promoção dos diversos graus hierárquicos da gestão da empresa com base na competência. O que se pretende é que as pessoas que mais integradas estão na gestão possam ajudar todos os outros camaradas (...) e vão ficando aptos a desempenhar cargos para os quais em princípio não estavam preparados". Jornalista entrevista trabalhadores sobre as possíveis divergências pessoais e partidárias que surgiram e a forma como lidaram as mesmas através de uma organização unitária "esses conflitos não surgiram sequer. A luta dos trabalhadores desta empresa foi de tal maneira unitária e organizada que o sentido partidário nem nunca chegou a ser aflorado" e "(No primeiro concelho de empresa provisório) as pessoas trabalharam em conjunto sempre unidas na resolução do seu interesse, do interesse de todos os trabalhadores, do interesse da empresa, foi o elo de ligação". Jornalista entrevista administradores sobre a relação que mantém com o governo e com a banca "a transformação desta casa, na via socialista, que é coincidente e partidária do governo (...) os nosso esforços, desta transformação, é oferecer ao governo o nosso pequeno esforço (...) o ímpeto revolucionário das massas trabalhadoras tem que começar a ser aproveitado e analisado com outra ótica" e se mantém contacto com empresas que estejam em processo de autogestão "de momento ainda não. No entanto, esse contacto pensamos que se deve estabelecer o mais rapidamente possível a nível nacional". Exterior de prédio com as faixas "Os nossos princípios são: unidade, trabalho, democracia e socialismo" e "Esta empresa é dos trabalhadores com a revolução socialista a nossa revolução".