Frente a Frente… Mário Soares e Álvaro Cunhal – Parte I
Primeira parte do debate moderado pelos jornalistas José Carlos Megre e Joaquim Letria entre Mário Soares, secretário-geral do PS, e Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, sobre a governação, as relações entre socialistas e comunistas, os problemas sociais e económicos e a política de descolonização.
Resumo Analítico
José Carlos Megre introduz o programa, explicando como vai decorrer o debate, e com Joaquim Letria questionam Mário Soares sobre o V Governo Provisório e as dificuldades práticas da governação provocadas pela reserva do PCP na participação do VI Governo Provisório e acusa o PCP de manipulação e agitação social juntamente com a dita "extrema-esquerda". 12m47: Álvaro Cunhal argumenta com a necessidade de alargamento social da revolução iniciada a 25 de Abril de 1974 e que é difícil alcançá-lo com uma "política de direita", os revezes sofridos pelas forcas progressistas depois da remodelação do V Governo Provisório e do pronunciamento de Tancos e o facto do PCP não se rever num governo que inclua o Partido Popular Democrático (PPD). 20m17: Mário Soares concorda que a revolução é feita contra o fascismo, colonialismo, grandes latifundiários e os grandes exploradores capitalistas mas com um critério democrático, não se devendo excluir a participação de um partido com 26% do eleitorado como o PPD, e troca acusações com Álvaro Cunhal em que referem os acontecimentos de conflitos sociais entre as "forças progressistas revolucionárias" e as "forças reacionárias", e referem as alianças do VI Governo Provisório e as possibilidades de convergência entre o PS e o PCP. 29m49: Mário Soares acusa Álvaro Cunhal de se fazer de vítima, refere os antagonismos criados pela Revolução de 25 de Abril de 1974 relativamente ao PCP e aos comunistas que se dizem alvo de perseguição. 32m30: Mário Soares acusa o PCP de dar sinais de querer "transformar este país numa ditadura", a que Álvaro Cunhal reage afirmando "Olhe que não! Olhe que não!", que os países que servem como inspiração ao PCP não têm liberdade e onde os socialistas são considerados reacionários, afirma que o povo português não querer voltar a uma ditadura, refere a instabilidade económica, as clivagens no seio das famílias e do trabalho, não sendo estes os caminhos da revolução que devem ser identificados com o respeito pelas regras da democracia e alternância democrática governando quem tem a maioria e não quem se diz mais revolucionário. 38m00: Álvaro Cunhal reage às acusações afirmando que o PCP mantém boas relações com os socialistas e que defende as liberdades, ao contrário do PPD que apoiou a "maioria absoluta" associada ao General António Spínola, e acusa o PS de ter ligações com a direita reacionária ao mesmo tempo que Mário Soares alerta para a importância dos factos. 42m37: Álvaro Cunhal reage à acusação de que os comunistas são vítimas de perseguição e alerta para "o perigo da reação da direita" e Mário Soares concorda que Portugal deve ser defendido do fascismo, apela a "vamos fazer a democracia em Portugal", refere a expressão "social fascista", acusa o PCP de querer instaurar uma ditadura ao que Álvaro Cunhal diz que isso é uma injúria e invenção do MRPP e da Aliança Operário-Camponesa (AOC), que considera aliados do PS, refere os assaltos às sedes do PCP e debate com Mário Soares a situação de "contrarrevolução" no Alentejo. 56m20: José Carlos Megre interrompe o debate e pede para avançar para a próxima pergunta; Álvaro Cunhal refere a "base operária" do PS, acusa o PS de não querer o socialismo, de ser contra a reforma agrária no Alentejo e de ter ligações com os exploradores, garante que o PCP quer um "Portugal democrático com amplas liberdades democráticas (...) que abram o caminho para o socialismo" e que não defende um regime unipartidário. 01m00m00: Dirigentes pronunciam-se sobre os acontecimentos em Angola, sendo que Álvaro Cunhal relembra a solidariedade do PCP com vários movimentos de libertação, considera o MPLA como o legítimo representante de Angola e responsabiliza a FNLA e a UNITA pela situação de instabilidade militar que prevê agravar-se com a aproximação da data da independência a 11 de novembro de 1975 e Mário Soares elabora historial sobre os vários movimentos de independência com representatividade legítima, sendo o caso angolano referido como o mais complexo pelos interesses internacionais em jogo e a existência de três movimentos. 01h11m40: Mário Soares refere o critério pragmático seguido em detrimento do ideológico e as ações da diplomacia portuguesa junto da Organização das Nações Unidas (ONU), Organização da Unidade Africana (OUA) e do Vaticano, elogia os acordos de Alvor que abrangem a legitimidade dos três movimentos, cabendo ao povo angolano a decisão de escolher a sua governação, refere o papel de Vítor Crespo como ministro dos Negócios Estrangeiros e debate com Álvaro Cunhal as consequências de um reconhecimento unilateral de um dos movimentos de independência e sobre as pressões internacionais exercidas sobre Angola.