Frente a Frente… Mário Soares e Álvaro Cunhal – II Parte
Segunda e última parte do debate em estúdio entre Mário Soares, Secretário Geral do Partido Socialista, e Álvaro Cunhal, Secretário Geral do Partido Comunista Português. Moderado pelos jornalistas José Carlos Megre e Joaquim Letria, este debate demonstrou à evidência duas visões distintas e antagónicas para o futuro de Portugal. Segundo as regras estabelecidas previamente, na segunda parte há lugar ao confronto direto de ideias e de argumentos entre os dois líderes partidários, tornando bem claro que os respetivos projetos para a sociedade portuguesa estão abertamente em rota de colisão. Poucas semanas mais tarde, os acontecimentos do 25 de novembro acabariam por traduzir as diferenças existentes entre as duas áreas políticas.
Resumo Analítico
Soares e Cunhal respondem a Joaquim Letria sobre a reestruturação da autoridade e disciplina das Forças Armadas (FA) e o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no processo revolucionário e a relação das FA com os partidos; os dois entrevistados referem na intervenção aspectos pontuais de indisciplina militar, o roubo de armas e o problema dos saneamentos tanto à esquerda como à direita; Soares acusa o excessivo peso do PC no aparelho do Estado, afirmação refutada por Cunhal; Joaquim Letria lança o debate sobre a partidarização da comunicação social; Soares começa por afirmar que não existe democracia sem uma informação livre, afirma-se leitor atento das crónicas de Álvaro Cunhal e faz uma crítica global da imprensa tanto do bloco ocidental como do bloco socialista, e afirma a postura por parte dos partidos comunistas, de esmagamento de correntes de opinião quando infiltrados em algum órgão de comunicação social, dando como exemplo o “Diário de Notícias”, o jornal “O Século”, a rádio e a televisão; Soares questiona o problema dos órgãos de comunicação social como devendo ou não ser estatizados, crítica fortemente a tomada das instalações da Rádio Renascença, relaciona a actual baixa de tiragem dos jornais estatais com os 12% do eleitorado comunista, referindo-se implicitamente à influência do PC nos jornais do estado; Soares alude a jornais com conflitos entre trabalhadores e direcção responsabilizando o PC; Álvaro Cunhal intervém defendendo a necessidade da criação de estatutos para a comunicação social; Cunhal crítica, a nível de exemplo, a actuação da televisão; Soares afirma o interesse em primeiro lugar de salvar Portugal e só depois a revolução, comentando a crise nos vários sectores produtivos como: o pequeno comércio, a agricultura, a reforma agrária, o turismo, a falta de trabalho e a fuga do país de técnicos especializados; Soares refere também desajustes no sistema judicial e a falta de condições das prisões portuguesas bem como a prisão de carácter preventivo efectuada aos agentes da PIDE/DGS (Polícia Internacional de Defesa do Estado / Direcção Geral de Segurança) que se encontram sem julgamento; Álvaro Cunhal alerta para a necessidade de manter presos os agentes da PIDES/DGS até ao perigo da contra revolução passar, lembrando que o PC é alvo de acções terroristas; elogia os aspectos positivos da reforma agrária exemplificando com as cooperativas alentejanas; Soares não concorda com a perspectiva optimista evocando casos de expropriações, ocupações, diminuição de produção agrícola; afirma existir um plano para destruir a economia do país; Soares refere a política de alianças do PS, lembrando a relação do PS com o PCP no período anterior à revolução, elogiando-o mas distanciando-se na actualidade pela postura política do PCP, que considera diferente dos partidos comunistas europeus; Álvaro Cunhal apresenta o PCP como o defensor das liberdades, com o compromisso histórico perante o operariado e contra o capital, afirmando não ser um partido empenhado em construir uma ditadura.