Entrevista a Vasco Lourenço
Lisboa, Sala Azul do Palácio de Belém, entrevista conduzida pelo jornalista Fernando Balsinha ao Capitão Vasco Lourenço, membro do Conselho de Revolução, sobre o 25 de Novembro de 1975, tentativa de golpe militar levado a cabo pela extrema-esquerda, e controlada pela ala moderada das Forças Armadas liderada pelos militares Vasco Lourenço, Jaime Antunes e Ramalho Eanes.
Resumo Analítico
Vasco Lourenço afirma que os problemas que surgiram nos últimos dias estão resolvidos, nomeadamente no RALIS e Escola Prática de Administração Militar; contudo subsistem ainda problemas na base da Escola de Pára-quedistas de Tancos; nas outras regiões militares não há problemas, excepto Tancos e outras bases da Força Aérea ocupadas por pára-quedistas sublevados; fala sobre as demissões dos Generais Otelo Saraiva de Carvalho e Fabião, dizendo que foi uma demissão a pedido dos próprios, uma vez que eram alvo de simultâneo apoio e contestação; Lourenço faz votos de que Otelo e Fabião ainda tenham um papel a desempenhar na revolução portuguesa. Vasco Lourenço desmente os boatos sobre a prisão generalizada de oficiais por suposta implicação na sublevação, inclusive de membros do Conselho de Revolução, afirmando que há muito cuidado neste processo e só se fazem detenções quando há certezas; confirma que foram detectados civis armados nas operações e faz um apelo à entrega das armas às autoridades. Vasco Lourenço diz esperar que o estado de sítio decretado em Lisboa seja levantado o mais brevemente possível e que a situação da sublevação de Tancos influenciou os incidentes em Lisboa e como tal terá de ser resolvida antes de ser decretado o fim do estado de sítio; diz que as exortações aos pára-quedistas de Tancos para se defenderem, uma vez que o Almirante Rosa Coutinho avançaria para Tancos com 2000 fuzileiros, são infundadas, pois o Almirante está no Conselho de Revolução e achou as informações ridículas; diz que têm forças suficientes para resolver militarmente a situação, só que não querem derramar sangue de portugueses. Vasco Lourenço rejeita que o contra-golpe em curso seja um regresso ao fascismo, sendo sim uma acção de salvaguarda do espírito do 25 de Abril que impede o resvalar para a esquerda extremista, defendendo uma sociedade justa e livre, sem cariz ditatorial; diz que a direita é um perigo e que se quer aproveitar desta situação, infiltrando-se na esquerda revolucionária e empurrando-a para aventuras "pseudo-revolucionárias", para assim provocar uma radicalização das forças menos revolucionárias em resposta.