Entrevista a Mário Soares

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Lisboa, entrevista a Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros e secretário geral do PS, sobre a política externa portuguesa, a descolonização, e a difícil conjugação dos cargos ministeriais e partidários que ocupa.

  • Nome do Programa: NOTICIÁRIO NACIONAL DE MAIO
  • Nome da série: NOTICIÁRIO NACIONAL DE 1974
  • Locais: Lisboa
  • Personalidades: Mário Soares, Agostinho Neto
  • Temas: Política
  • Canal: RTP 1
  • Tipo de conteúdo: Notícia
  • Cor: Preto e Branco
  • Som: Mono
  • Relação do aspeto: 4:3

Resumo Analítico

Mário Soares refere o encontro que decorrerá em Londres com o PAIGC, afirmando que a primeira prioridade é negociar o cessar fogo com esta organização, de seguida organizar-se-á a cooperação entre os dois países e a autodeterminação do povo da Guiné, afirma que António de Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial, não estará presente nos primeiros dias da negociação uma vez que o ocupam assuntos relacionados com Moçambique e Angola podendo chegar mais tarde, e que António de Almeida Santos também não esteve presente nas conversações iniciais em Dakar porque na altura o convite que foi-lhe endereçado na qualidade de secretário geral do PS e não como ministro dos Negócios Estrangeiros. Mário Soares tece comentário sobre Cabo Verde e afirma que é um problema menos urgente, uma vez não haver guerra em curso no território, mas que haverá igualmente lugar à consulta e autodeterminação do povo, aborda as relações históricas com Inglaterra e afirma que após um período menos bom por causa do Ultramar, poderá agora haver condições para regressar a um bom entendimento entre os países, reconhecendo que as boas relações pessoais com os altos dirigentes ingleses poderão ser úteis neste campo. Mário Soares refere as novas possibilidades de desenvolvimento da cooperação com o Mercado Comum e as reuniões que manteve com comissários da Comunidade Europeia, descreve os dirigentes dos movimentos de libertação como Aristides Pereira, Agostinho Neto, Samora Machel e Marcelino dos Santos como homens de grande estatura política e internacional e diz que a época de denegrir estas figuras acabou. Mário Soares fala acerca da população europeia minoritária das províncias ultramarinas em relação à consulta pública para a autodeterminação e tranquilização dos colonos, recusa que venha a assistir-se a um êxodo da população branca caso venha a haver um governo negro, dizendo que antes do 25 de Abril é que se registava um êxodo, não havendo motivo para que a população branca saia das terras onde sempre viveu caso da autodeterminação saia uma solução extrema como a independência e a propósito de portugueses expulsos do Zaire, afirma-se preocupado mas que ainda não estudou em profundidade o problema. Mário Soares afirma que "não escondo a posição que tenho ser antirracista e que me preocupam certos aspetos da política racial da África do Sul", afirma que isto não quer dizer que não respeite o princípio de não-ingerência na política interna de outros países; quando questionado sobre se se encontra sintonizado com o General António de Spínola, presidente da República, em tudo menos na política de Ultramar, Mário Soares afirma que assim não é, que há sintonização em tudo e que há um fundo de convergência nas suas opiniões em concreto quanto à necessidade de respeitar a autodeterminação das províncias ultramarinas, analisa a possibilidade de abertura de relações diplomáticas com países socialistas e os seus moldes, recusa haver contradição entre a permanência na NATO e estas relações e diz que o novo estatuto da base das Lajes pode esperar. Mário Soares destaca as relações externas com países do Terceiro Mundo e afirma que pensa que "a guerra estará banida das relações internacionais para todo o sempre", dizendo que manterá relações de amizade com a Espanha, refere a possibilidade de dar estatuto de asilo político a guerrilheiros bascos, diz que a abertura de relações com a China beneficiará a situação portuguesa em Macau, confirma que o problema do Chile o preocupa bem como a situação daqueles que ali estão presos, que considera seus camaradas, não deixando de ter relações diplomáticas com o Chile. Mário Soares reconhece conseguir conjugar as funções de secretário geral do PS e Ministro dos Negócios Estrangeiros "bastante mal", dizendo que os camaradas estão descontentes e que preferiam que fosse ministro sem pasta para se poder dedicar às atividades do partido, mas que entendeu que o interesse nacional se sobrepunha ao interesse partidário e que o seu desempenho ali seria mais necessário e importante.

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