Entrevista a António Damásio
Entrevista exclusiva à RTP, conduzida pelo jornalista Carlos Daniel a António Damásio, neurocientista, que acredita que as redes sociais representam um perigo para a democracia e para a qualidade de vida, destacando o modo como muitas pessoas se expõem, e explica também a revolução científica de como os afetos influenciam todas as nossas decisões.
Resumo Analítico
Planos de corte da entrevista com António Damásio a começar por comentar a dependência crescente face à tecnologia, diferenciando as tecnologias que permitem fazer ciência e o tratamento de doenças, que considera que são "tecnologias magníficas", das tecnologias que têm a ver com a informação "em que aí há um problema grave (...) há pouco tempo de reflexão", referindo-se nomeadamente às redes sociais. António Damásio afirma "Há riscos eminentes que têm a ver com a exploração do individuo, tem ver com o desrespeito de valores individuais", refere que "a mudança nunca foi tão rápida, da mesma maneira que a disseminação da informação nunca foi tão rápida como é agora". Sobre a forma de combater os efeitos mais perversos diz "tratar os factos da forma mais cientifica possível (...) no sentido de olhar os factos, analisar os factos e poder discuti-los de uma forma livre, de uma forma que esteja o mais despida possível de carga ideológica". António Damásio refere que as redes sociais estão a prejudicar a qualidade de vida, estão "a perder cada vez mais tempo com esses meios de informação" perdendo "a possibilidade de apreciar outros seres humanos, a possibilidade de apreciar o universo tal como ele é à nossa volta", refere "aquilo que passamos a percecionar é um ecrã (...) há uma perda em relação à realidade" e "há uma maior capacidade de lidar com o real através das imagens, mas a realidade direta (...) passa a estar mais longe e a ser mais estranha". Sobre o fim da privacidade aliado ao facto das pessoas exporem a sua vida afirma "é uma espécie de pornografia pessoal, em que o individuo se expõe e menospreza aquilo que é privado", destacando que quando não se tem privacidade "perde-se o pudor". António Damásio sobre as neurociências permitirem uma melhor compreensão sobre o que é o ser humano e a valorização da vida afetiva; afirma "as pessoas estão de facto a perceber que não é possível compreender a vida mental humana, sem ter uma quota muito elevada daquilo que é o afeto (...) grande parte daquilo que se está a passar com os seres humanos tema ver com a vida afetiva desses seres humanos". António Damásio sobre a inteligência humana, o controlo dos sentimentos e as emoções. António Damásio afirma "o quadro da decisão varia com o problema", que "as pessoas que perdem a capacidade de sentir emoções passam a ser péssimos decisores", e que "quem perde a possibilidade de ter certas emoções e certos sentimentos passa a decidir pior, o que significa que a sua cognição é afetada negativamente pela falta de emoções". Sobre a inteligência artificial António Damásio diz que "não copia a inteligência humana, copia uma parte da inteligência humana"; refere ainda "não condições atuais não pode replicar a inteligência afetiva", "não é possível imitar o afeto humano num device" no momento.