Dramazine
Programa de informação e divulgação teatral apresentado por Castro Guedes, com destaque para a homenagem a António Pedro, poeta e dramaturgo, para as peças de teatro que estão em cena em vários teatros do país.
Resumo Analítico
Homenagem e biografia do mestre António Pedro, poeta surrealista e jovem "camisa azul" do grupo de Rolão Preto, também ceramista, pintor, escultor, dramaturgo, encenador, fundador do TEP - Teatro Experimental do Porto, colaborador da RTP nos últimos anos de vida, entre outras atividades, vinte e seis anos após a sua morte, Cruzeiro em contra luz, mar e casa arruinada vista do seu interior, casa que foi projetada para ser um Teatro mas que ficou longe de conclusão, último grande sonho do mestre António Pedro, portão de grade entreaberto em que se lê "Anno 1888", retrato a preto e branco. Depoimento de Manuela de Azevedo, critica teatral, conta como conheceu António Pedro na década de quarenta a propósito de "Apenas Uma Narrativa", fala dos movimentos teatrais inovadores que tenta implementar aquando do seu regresso da Londres vanguardista, das desilusões sucessivas que sofreu, em particular depois dos anos em que esteve à frente do Teatro Experimental do Porto, e das obras não concluídas do Teatro de Moledo. Vista da Casa de António Pedro, poeta e dramaturgo, em Moledo do Minho, com quintal gradeado e árvore de grande porte junto da casa, parte central da fachada principal da casa, portão de grades com o número 204 num dos pilares que o sustentam, quadro surrealista, livro que se folheia com reproduções a preto e branco de pinturas, duas das quais são os quadros referenciados aqui, travelling sobre outro quadro, fotografia a preto e branco de António Pedro inserida em fundo a cores, com mãos, travelling sobre cartaz da peça "Um Pedido de Casamento" apresentada pelo TEP e onde se lê "encenação e cenários de António Pedro", fotografia a preto e branco do tempo dos Companheiros do Pátio das Comédias, companhia lisboeta que fundou com o teatrólogo Costa Ferreira em 1948 e onde surge sentado, tendo junto de si, em pé, uma senhora, no palco de um teatro vazio, capas de duas publicações, de carácter pedagógico, da série "Cadernos dum Amador de Teatro" dos princípios dos anos 50, uma delas de "antologia de iniciação teatral", outra com o título "O Teatro e a Sua Verdade", livro "Pequeno Tratado de Encenação" publicações abertas, uma sobre o TEP, também uma publicação dos Companheiros do Pátio das Comédias, em cuja capa se destaca o título "Apolo", livro "Teatro Completo", capa da peça "Andam Ladrões Cá Em Casa", painel de fotografias a preto e branco e a frase "Terceira Parte", com oráculo indicando que se trata de uma produção RTP com realização de Bento Pinto da França, excerto da peça, em que se ouve a cançonetista Édith Piaf, antes do diálogo entre Teresa Roby (Joaninha) e Canto e Castro (Inácio Lemos), atores, recorte de artigo do jornal "Comércio do Porto" com o título "Porque Sou Surrealista", com autorretrato, lembrando quem se incompatibilizou com o Grupo Surrealista de Lisboa de que fora um dos fundadores em 1947, de novo a casa de Moledo, onde se refugia no início dos anos 50, o poeta Egito Gonçalves anuncia a aventura de António Pedro no TEP, logótipo da companhia, vista da cidade do Porto e da emblemática Torre dos Clérigos, cartaz da peça "Volpone", três fotografias a preto e branco de atores do TEP representando, na primeira das quais se reconhece João Guedes. Depoimento de Egito Gonçalves, um dos fundadores do CCT/TEP - Círculo de Cultura Teatral/ Teatro Experimental do Porto em 1952 explica que foram ter com António Pedro a Moledo do Minho para que ele viesse para o Porto ensinar teatro, o qual deparando com uma sala com cerca de quarenta pessoas se entusiasmou e com a sua personalidade e capacidade de comunicação por cá ficou, ensaiando nos mais diversos locais, até num café, enquanto não se arranjou uma sede, ficha de sócio do Círculo de António Pedro, fotografia a preto e branco da representação da glosa que o depoente fez da "A Nau Catrineta" do cancioneiro tradicional, através da inclusão de mais alguns versos para possibilitar a sua dramatização, e que fez parte da trilogia de peças de um ato com que o TEP se estreou, cartaz que divulga o Teatro de Bolso do TEP. Dois textos impressos sobre as peças "A Promessa" e "O Crime de Aldeia Velha", ambas de Bernardo Santareno, com fichas técnicas indicando a encenação de António Pedro intercalados por fotografia a preto e branco de atores representando uma peça, duas páginas do jornal "Comércio do Porto" dedicadas ao biografado, contendo várias artigos e fotografias, com destaque para a recensão organizada pelo ensaísta e crítico de arte José Augusto França intitulada "A Sua Biobibliografia 1909-1966", para o artigo de Rogério Paulo, ator, com o título "O Encenador" e para as fotos que o acompanham, de representações das peças "Morte dum Caixeiro Viajante" de Arthur Miller pelo TEP, de "Um Chapéu de Palha de Itália" pelos Companheiros do Pátio das Comédias, de "Antígona", uma glosa da peça de Sófocles, pelo TEP, relevo ainda para a evocação que o artista surrealista Fernando Lemos faz no artigo "Em Sua Memória", outra fotografia a preto e branco da peça de Arthur Miller que teve grande sucesso em Lisboa, fotografia a preto e branco de António Pedro, com a frase no canto superior direito "toda a nossa mais profunda saudade", placa de metal com o nome Teatro "António Pedro", atribuído como homenagem, depois da sua morte, à Sala de Bolso na Rua do Ateneu Comercial do Porto, placa que indica Rua António Pedro, a qual se percorre ladeira abaixo e se contorna até parar junto ao que foi a entrada do referido Teatro, entretanto alienado por uma direção sem estofo e transformado em casa comercial. Depoimento de Júlio Cardoso, ator e encenador, sobre António Pedro, onde elogia intelecto e cultura do poeta, fala do prazer que era conversar com ele, sublinha o seu papel de teatrólogo e, de entre todas as suas atividades, que enumera, a de grande divulgador do teatro, como os arquivos da RTP certamente podem testemunhar. Excerto de programa apresentado pelo mestre António Pedro "Conversa Sobre Teatro", emitido a partir dos estúdios RTP Porto no Monte da Virgem em 1960, com realização de Nuno Fradique, falando no presente episódio sobre William Shakespeare, em linguagem cheia de magia. Depoimento de Júlio Cardoso, ator e encenador, conta uma história passada consigo no café portuense "Leão d'Ouro", onde um dia aparece António Pedro entusiasmado com o manuscrito da peça "O Judeu" do dramaturgo Bernardo Santareno e a dizer-lhe que aquele era "um dos maiores textos da literatura dramática portuguesa", que tinha de o fazer, que ia convidar o autor a passar uma semana na sua casa em Moledo do Minho para retocar o texto e que só havia um ator que podia fazer o personagem Cavaleiro de Oliveira, o Rui de Carvalho, o que afinal veio a acontecer muitos anos mais tarde, não já pela sua mão mas em produção do Teatro Nacional D. Maria II. Depoimento de Rui de Carvalho, ator, recorda o grande homem do teatro e seu grande amigo António Pedro através de um episódio passado em 1964 quando o ator pertencia ao Teatro Moderno de Lisboa e se partiu para a peça de Shakespeare "Measure For Measure", "Dente Por Dente" entre nós, sem encenador, Ribeirinho, outro grande mestre do teatro, estava indisponível e sem dinheiro para lhe pagar, mas isso não constituiu entrave para o homem de Moledo, onde se encontrava a convalescer, que aceitou vir para Lisboa fazer a encenação, cenografia, figurinos, dizendo que o pagamento ficava para depois e foi o último espetáculo do mestre, de quem o depoente quase todos os dias se lembra, porque, sempre que se pensa teatro em Portugal pensa-se no António Pedro. Excerto da peça "Desimaginação" do mestre António Pedro, numa encenação de Guilherme Filipe, cenografia de Rui Marcelino e figurinos de Isabel Perez, exibida no Clube Estefânia em 1991, pelo Grupo Persona, atores em palco: Jorge Alonso em Anjo e Carlos Borges em Senhor Messias, Custódia Gallego em Ingénua e Marques D'Arede em Cínico. Vistas de Seixas, cemitério onde está enterrado António Pedro, placa toponímica indicando a povoação de Seixas, campa rasa com o nome António Pedro da Costa inscrito, além da data de falecimento, 17 de Agosto de 1966, imagens de arquivo, filme a preto e branco do seu funeral, distinguindo-se entre os presentes que aguardam o caixão os atores Eunice Muñoz e Rogério Paulo e do TEP Jayme Valverde e Vasco Lima Coto. Cemitério de Seixas, Castro Guedes, apresentador, disserta sobre a saudade, não só como recordação de um tempo ausente mas também como "força evocadora do futuro, que gera obra e que faz da Humanidade esse perpétuo de continuidade e de acontecimentos, porque afinal, como diz Shakespeare, bem nossa só a morte", cemitério, coloca uma rosa vermelha na campa.