Comício de apoio ao MFA e ao 2º Governo Provisório
Lisboa, Estádio 1º de Maio, direto do comício de apoio ao Movimento das Forças Armadas (MFA) e ao 2º Governo Provisório promovido pelo PS, PCP e PPD, com o apoio do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE), Intersindical, União dos Sindicatos do Sul, Associação Portuguesa de Escritores e Conselho Português para a Paz e Cooperação, que assinala três meses da Revolução de 25 de Abril.
Resumo Analítico
Manifestantes exibem faixas de apoio ao MFA e ao 2º Governo Provisório. Mário Soares, do PS e ministro dos Negócios Estrangeiros, Joaquim Magalhães Mota, do PPD e ministro sem Pasta, e Álvaro Cunhal, do PCP e ministro Sem Pasta, são ovacionados e saúdam a assistência, destacando-se o sinal de vitória feito por Mário Soares; manifestante exibem faixas e gritam "PCP" e "Unidade, Unidade", cantam "Avante Camarada", sendo acompanhados por Álvaro Cunhal, e erguem os punhos no ar. Luís Filipe Costa declara a abertura do comício, seguido da interpretação do Hino Nacional pelos manifestantes e lançamento de balões brancos, identifica os sindicatos e movimentos de apoio presentes no comício, afirma "a reação não passará" ao que os manifestantes respondem com "Abaixo a reação", apresenta os intervenientes Mário Soares que é recebido com a palavra de ordem "socialismo, socialismo" a que se junta Álvaro Cunhal, Joaquim Magalhães Mota é recebido com aplausos e alguns assobios e Álvaro Cunhal e manifestantes gritam "PCP, PCP, PCP", José da Felicidade Alves, membro da Comissão Central e da Comissão Executiva do MDP/CDE, e Miller Guerra, professor, refere a presença de representantes do MDP e da Intersindical. Mário Soares testa o microfone, tem dificuldades em iniciar o discurso devido ao barulho dos manifestantes que gritam "sentados, sentados, sentados", pede para que se sentem e aguarda. Discurso de Mário Soares em que elogia o sentido democrático da população portuguesa, grita "O povo unido, jamais será vencido" acompanhado pelo manifestantes que erguem o punho, afirma "A reacção não passará" e os manifestantes respondem com "Abaixo a reação", afirma que o povo vencerá com a unidade dos partidos políticos, sindicatos e Forças Armadas, garante que o programa do MFA será cumprido resumindo-o a 3 palavras, nomeadamente democratizar, descolonizar, desenvolver, e afirma que irão sanear os fascistas na administração pública ao que os manifestantes gritam "Abaixo o fascismo". Apelo à unidade, não obstante as naturais divisões entre partidos políticos e pede o acelerar do processo de descolonização e do fim da guerra tendentes ao fim natural que é a independência da Guiné, Angola e Moçambique, ressalva a cooperação com estes países e a defesa dos interesses dos portugueses que ali desenvolveram o seu trabalho, dizendo que os interlocutores Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) entendem esta salvaguarda dos interesses portugueses, destaca a urgência da descolonização, desvalorizando as críticas que lhe são feitas neste campo. Mário Soares afirma que o governo terá de assegurar que o trabalho duro que é pedido ao povo não continuará a "engrossar meia dúzia de multimilionários, exploradores do povo" e manifestantes gritam "Abaixo o Capitalismo", diz ser necessário que a "Previdência Nacional deixe de ser uma burla" e que a saúde do povo seja protegida" e "não sejam apenas os ricos a tratar-se nas clínicas de luxo" e dirige elogio às Forças Armadas. Referência ao restabelecimento de relações diplomáticas com países socialistas e à oportunidade do mercado comum europeu, ao exemplo que Portugal deu à Grécia onde o fascismo também chegou ao fim e termina com vivas à Democracia, Liberdade e Socialismo e faz v de vitória; manifestantes gritam "socialismo". Discurso de Miller Guerra, em nome de cidadãos sem filiação partidária mas fiéis à Pátria e Liberdade e ao "estabelecimento progressivo da igualdade social", refere as dificuldades e desafios da independência partidária e desta não significar alheamento dos assuntos políticos "A civilização, o progresso, o desenvolvimento ou significam igualdade ou então não significam nada", afirma que o programa do MFA lança os fundamentos das reformas que conduzirão a um regime de paz, igualdade e liberdade. Discurso de Joaquim Magalhães Mota que se aproxima dos microfones e ouve-se alguns assobios, destacando-se o pedido por silêncio de António Dias Lourenço, do PCP, saúda os que combateram a ditadura e em particular os colegas de governo Mário Soares e Álvaro Cunhal e o General Humberto Delgado, elogia as Forças Armadas, defende que a unidade pressupõe a diversidade e que o "Povo Unido é cada um de nós com as suas ideias e o seu querer, é cada um dos nossos partidos a dar o seu contributo próprio e insubstituível às tarefas do futuro". Discurso de José da Felicidade Alves em que afirma que chegou "muito tarde ao pensamento da liberdade, da fraternidade e da igualdade", chama a atenção que ainda falta atravessar o deserto com a ajuda do MFA para alcançar a Terra Prometida, reclama uma sociedade de iguais, sem opressores, "sem senhores e sem escravos", apresenta lista de objectivos imediatos do processo democrático, entre os quais "impedir a sabotagem da vida económica", "prosseguir saneamento do país em todas as esferas" e "manter vigilância quanto à ameaça de regresso do fascismo". Denuncia situações de sabotagem económica do país que pretendem manter hegemonia que detinham antes da queda do fascismo e despedimentos maciços, apela a que se promulguem medidas severas que defendam interesses nacionais e dos trabalhadores e não de grupos monopolistas e ao "saneamento intransigente para impedir a reorganização das forças fascistas", alerta que as forças reaccionárias depois de surpresa inicial estão agora de novo activas e conspiram contra um Portugal livre e democrático e termina com vivas à unidade das forças democráticas. 03h28m40: Manifestantes cantam a canção "Grândola Vila Morena".