A Telenovela “O Bem-Amado” – Parte I
Primeira parte do debate em estúdio moderado pelo jornalista Pedro Luís de Castro sobre o impacto das novelas na sociedade e cultura portuguesas, a propósito da telenovela brasileira "O Bem-Amado", com autoria de Dias Gomes e produção da Rede Globo. Com os convidados Maria Alzira Seixo, professora da Faculdade de Letras de Lisboa, Jorge Leitão Ramos, crítico de televisão, Luís de Sttau Monteiro, escritor e autor da telenovela "Chuva na Areia" em produção pela RTP, Eduardo Cortesão, professor de Medicina, e Padre Alberto Neto, professor de Moral.
Resumo Analítico
Padre Alberto Neto pronuncia-se sobre o modo como a telenovela retrata a realidade religiosa do Brasil, as heresias, o fanatismo e o tipo de atuação da Igreja. 08m53: Jorge Leitão Ramos aborda a necessidade das telenovelas terem uma mensagem forte para não caírem no esquecimento dos espetadores e o modo como é feita a construção gramatical das frases de "O Bem-Amado" que considera ser a melhor telenovela de sempre. 13m11: Luís de Sttau Monteiro refere a dificuldade sentida ao escrever "Chuva na Areia", a maior simplicidade de escrever telenovelas em vez de romances e a diferença relativamente ao processo de narração que conduz à designação de telenovela no Brasil e de teleromance em Portugal. 17m02: Excerto do discurso do "aperto de mão" do personagem Odorico Paraguaçu representado pelo ator Paulo Gracindo. 19m21: Maria Alzira Seixo admite a adopção em Portugal de alguns vocábulos utilizados nas telenovelas brasileiras, comentando a utilização da linguagem neste enredo como forma de distinção social na luta pelo poder, nomeadamente pela maneira como são formados os advérbios, e as diferenças lexicais introduzidas na língua portuguesa que não devem ser confundidas com alterações de estruturas básicas, daí não colocarem em risco a sua identidade própria. 27m21: Eduardo Luís Cortesão fala das hipóteses dos espetadores assimilarem e se identificarem com os problemas abordados nas telenovelas ou permanecerem indiferentes pela superficialidade do seu conteúdo; afirma ser apologista daquela obra audiovisual que tem a sua razão de ser na crítica social que representa relativamente aos discursos empolados e demagógicos de académicos e governantes personificado na personagem Odorico Paraguaçu. 35m24: Maria Alzira Seixo destaca a utilização da língua como um elemento fundamental da história através da fuga às normas gramaticais e da criatividade verbal para realçar a acentuação e a sátira. 38m10: Excerto de episódio "O Bem-Amado" com o diálogo entre as personagens Dorotéia Cajazeira (Ida Gomes) e Zeca Diabo (Lima Duarte) sobre a possibilidade da primeira ensinar este a ler. 44m30: Padre Alberto Neto caracteriza o personagem Zeca Diabo em termos da sua religiosidade e o modo como é utilizado para ilustrar a busca do ser humano pela sua regeneração. 40m54: Leitão Ramos refere a influência de "O Bem-Amado" em todas as classes sociais e a figura do Zeca Diabo como vítima das leis morais da sociedade brasileira retratada na sátira política da telenovela realizada num contexto de ditadura militar.