Discurso de Salazar sobre política ultramarina
António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, discursa sobre a política portuguesa em África, na homenagem que lhe é prestada pelos Municípios de Moçambique em Lisboa.
Resumo Analítico
António de Oliveira Salazar, acompanhado por Joaquim Moreira da Silva Cunha, Ministro do Ultramar, entra na sala; individualidades aplaudem a entrada de Salazar; Humberto Albino das Neves, Presidente da Câmara de Lourenço Marques, discursa sobre a responsabilidade de os municípios de Moçambique representarem moralmente os seus povos na vida colectiva nacional; a gratidão, respeito, reconhecimento e veneração das populações de Moçambique por Salazar; o desejo de saúde e vida longa; o voto de que visite Moçambique animando com a sua presença a obra dos portugueses, ilustrado com rosto de Salazar; Albino das Neves e Salazar abraçam-se. 07m00: Salazar discursa agradecendo ser considerado filho de cada um dos conselhos de Moçambique, o convite para uma visita e a dedicação de todos à pátria; refere a política de África e os seus erros, sendo o principal ter-se partido da ideia da identidade do Continente com a aplicação das mesmas fórmulas políticas, sociais e económicas; a existência de uma África tríplice que teria exigido regimes e tratamentos diversos: África afro-árabe (África do Norte), "África tipicamente africana" e África euro-africana ou do Sul; a política norte-africana. 13m44: a política da "África africana" (a Sul do Saara) e as causas da sua instabilidade: divisão em pequenos países, descolonização precipitada, exiguidade da superfície e ausência de fronteiras naturais, administração ineficaz, diversidade de etnias hostis, inexistência de elites políticas e quadros administrativos locais, não miscigenação de raças e culturas, racismo contra os brancos. 18m07: as tentativas de remediar a situação por parte das antigas potências soberanas com desperdício de dinheiro subsidiado e pouca rentabilização obtida; o desvio dos estímulos dado à educação das grandes massas para bolsas no estrangeiro que permitiram o treino militar e guerrilheiro, a formação na política comunista e o consequente regresso à terra de uns elementos subversivos e outros desenraizados e incapazes de actuar. 23m36: os traços comuns, apesar da diversidade política, do conjunto de territórios ao Sul do Zaire e do Ruvuma (África Austral) que limitam a Norte Angola e Moçambique, sendo esta a parte de África mais rica e desenvolvida, voltada para o Ocidente na cultura dominante e nas opções ideológicas; a ligação da Rodésia e da Zâmbia a este conjunto; a ligação de Angola e Moçambique à Europa; a importância do estreitamento das relações entre estes territórios, essencial à vida de cada um e ao progresso geral, a felicidade de todos estarem libertos de qualquer espécie de racismo; estes factos como expressão do crime contra a civilização e o progresso dos povos africanos que muitos querem estender à África Austral, à imagem da política seguida no Norte e a Sul do Saara. 27m10: as manifestações e votações condenatórias contra a presença portuguesa em África na Quarta Comissão das Nações Unidas, particularmente dos países comunistas e afro-asiáticos; a necessidade de haver elites nos territórios africanos e a recusa na sua integração; o pedido e desperdício de subsídios financeiros e a impossibilidade de investir capitais ocidentais em condições normais na produção local para o progresso das populações; a negação da entrega do Governo e da Administração aos mais aptos em nome de maiorias não preparadas para os exercer e o consequente alargamento do caos em África, razão pela qual "continuo a admirar a Rússia e os satélites, a lamentar os africanos e as suas paixões, a não compreender os europeus e americanos que não puderam ainda ver claro os horizontes do mundo talvez porque os turvaram os chamados ventos da mudança"; assistência aplaude. 30m23: As migrações provocadas pela subversão em África e o acolhimento feito nos territórios portugueses; a linha de rumo portuguesa traçada por uma história de séculos que moldou a comunidade portuguesa na sua feição euro-africana; o sacrifício dos interesses materiais em nome do progresso das populações; a crítica europeia ao paternalismo e espírito missionário português; a crença na superioridade da nossa civilização geradora da tenaz resistência às forças desintegradoras que do estrangeiro se infiltram no Ultramar; assistência aplaude; o risco de deixar instalar a convicção de que o terrorismo é invencível. 35m00: Oliveira Salazar chama a atenção para três pontos: a superioridade do número de africanos assassinados pelos terroristas em relação às forças europeias, o refúgio das populações junto das forças militares ou das autoridades quando perseguidas pelos libertadores e a inexistência de zonas onde os terroristas possam afirmar que mandam, factos que desmentem o mito da libertação dos africanos por movimentos nacionalistas no território português; Oliveira Salazar pergunta quanto tempo se necessário para fazer cessar o terrorismo e reponde que, quando o Ocidente compreender que está a ser minado pelo comunismo em África mudará a atitude perante os problemas africanos; o crescimento de países moderados em África e o aumento da sua influência, havendo um momento em que os extremistas terão de os deixar viver na cooperação amigável que propomos e defendemos e a imprevisibilidade da chegada desse o momento. 42m00: "Penso que deve ser-se optimista quando se está seguro de fazer durar indefinidamente a resistência. Essa possibilidade é que é a prova da força e o sinal seguro da vitória, através da qual não queremos senão continuar na paz da nação portuguesa"; assistência aplaude de pé; Salazar agradece, levanta-se e conversa com Silva Cunha; Oliveira Salazar cumprimenta individualidades que Silva Cunha vai identificando; Oliveira Salazar e Silva Cunha abandonam a sala.