Entrevista a Jorge Sampaio – Parte I
Primeira parte da entrevista conduzida pelo jornalista Mário Crespo a Jorge Sampaio, Secretário-Geral do PS e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sobre a posição do seu Partido face às próximas eleições Presidenciais e Legislativas, abordando assuntos relacionados com a gestão autárquica, e temas de política nacional e internacional.
Resumo Analítico
Jorge Sampaio comenta que não sentiu uma demarcação de Mário Soares, candidato a Presidente da República e ex-Secretário-Geral do PS, do partido no decorrer do processo eleitoral e sublinha que essa candidatura, embora seja mais abrangente do que o espaço político ocupado pelos socialistas defende valores comuns; afirma que no quadro constitucional português há toda a vantagem em que os vários Órgãos de Soberania cooperem, e toma a Guerra do Golfo como exemplo. 11m30: Jorge Sampaio classifica o primeiro mandato de Soares, como Presidente da República, como muito positivo; garante que o PS está disponível para disputar todas as eleições mas não conta com eventuais transferências de voto de Soares; acusa o PSD de querer diminuir a importância das Presidenciais e critica, igualmente, os comunistas por não apoiarem Soares; afirma que se o PSD tivesse um candidato presidencial com garantia de vitória não estaria a apelar à abstenção dos seus militantes. 16m51: Jorge Sampaio garante que seria uma contradição o PS querer tirar efeitos partidários de uma eleição presidencial; lembra que, durante o primeiro mandato, Soares teve uma atuação nacional muito importante para a democracia portuguesa; demonstra a sua estranheza perante a posição do PCP nestas eleições presidenciais. 21m18: Afirma que o número de votos não tem influência na legitimidade de quem é eleito; admite que, perante o desmoronar dos regimes comunistas do Leste da Europa, gostava que o PS fosse a casa comum da Esquerda democrática portuguesa, garantindo que não está a propor uma aliança com o PCP mas sim a dirigir-se ao eleitorado comunista; adianta que o seu partido está pronto a receber todos aqueles que questionam os modelos que já não existem; manifesta-se aberto a receber dissidentes do PCP no seu partido, caso essa seja a sua vontade; sublinha que não está a falar em união da Esquerda, conceito que reputa como ultrapassado e que lembra nunca ter defendido; diz que nas Legislativas de 1991 os eleitores poderão dizer se querem continuar com um Governo do PSD ou se preferem a alternativa apresentada pelo PS; adianta que o seu partido junta a liberdade e a democracia com a solidariedade e a igualdade de oportunidades; lembra os bons resultados do seu partido nas últimas eleições europeias e autárquicas para justificar que o PS é uma alternativa séria ao PSD; diz que é legítimo que o PS aspire à maioria absoluta nas Legislativas do próximo ano; 32m15: sobre um possível cenário em que ele próprio seria Primeiro-Ministro e Mário Soares Presidente da República, Sampaio diz que há que distinguir as relações pessoais das relações políticas mas sublinha a importância de ouvir o Chefe de Estado em algumas matérias como, por exemplo, a Defesa e a questão de Timor; garante que olha com serenidade para a marcação das próximas eleições Legislativas e diz que dissolver a Assembleia da República após as Presidenciais é uma decisão que cabe, exclusivamente, a quem for eleito Chefe de Estado; comentando uma entrevista do dirigente socialista João Soares, Sampaio desvaloriza as afirmações do seu correligionário garantindo que não correspondem às posições que o ouve defender dentro do PS; garante que o seu partido está empenhado na reeleição de Soares e na vitória nas próximas Legislativas; diz que não tem qualquer dificuldade em ser, simultaneamente, Secretário-Geral do PS e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e acrescenta que é uma grande honra ocupar esses dois cargos.